Dólar bate R$ 6 pela primeira vez; mercado reage negativamente a pacote de medidas econômicas do governo Lula

Atualizado por Vinícius de Freitas às 14:21, Redação TVI


O dólar alcançou R$ 6 pela primeira vez na história nesta quinta-feira (28), refletindo o impacto das novas medidas econômicas anunciadas pelo governo federal. Enquanto isso, o Ibovespa, principal índice da bolsa brasileira, registrou mais uma forte queda, em meio às incertezas dos investidores quanto à trajetória fiscal do país.


Cenário econômico: dólar e Ibovespa em queda

Às 14h, o dólar operava em alta de 1,41%, cotado a R$ 5,9960, com máxima de R$ 6,0029. No acumulado:

  • Semana: alta de 1,70%
  • Mês: ganho de 2,27%
  • Ano: valorização de 21,84%

Já o Ibovespa recuava 1,41%, aos 125.875 pontos. Nos acumulados:

  • Semana: queda de 1,12%
  • Mês: perdas de 1,57%
  • Ano: retração de 4,85%

O real tem sofrido com a desvalorização nas últimas semanas, em parte devido à desconfiança do mercado em relação à condução das contas públicas.


O pacote de medidas

Na manhã desta quinta-feira, os ministros Fernando Haddad (Fazenda), Simone Tebet (Planejamento) e Rui Costa (Casa Civil) explicaram os detalhes do pacote anunciado na noite anterior.

As medidas incluem:

  • Cortes de gastos públicos: R$ 70 bilhões entre 2025 e 2026, com ações como:
  • Limitação ao crescimento do salário mínimo
  • Restrições ao abono salarial
  • Alíquota de até 10% de imposto para rendas acima de R$ 600 mil anuais
  • Isenção do Imposto de Renda: a promessa de campanha de Lula de isentar quem ganha até R$ 5 mil por mês foi detalhada. Atualmente, a faixa de isenção é de R$ 2.824.

O governo defende que o impacto estimado de R$ 35 bilhões dessa medida será compensado pela taxação de grandes fortunas e ajustes tributários. No entanto, economistas do mercado apontam um custo anual de até R$ 40 bilhões, o que pode comprometer a trajetória fiscal.


Reação do mercado

O anúncio gerou um impacto misto no mercado financeiro. Apesar do esforço em cumprir o arcabouço fiscal, a combinação de cortes com a isenção do IR preocupa os investidores.

De acordo com Helena Veronese, economista-chefe da B.Side Investimentos, “a medida será considerada uma vitória política, mas seu custo pode enfraquecer o pacote de contenção de despesas.”

Além disso, a falta de clareza sobre como o governo compensará os gastos trouxe cautela aos investidores. Segundo Matheus Pizzani, da CM Capital, “não há como imaginar que essa isenção beneficie o consumo das famílias a ponto de equilibrar os custos.”


Medidas complementares já adotadas

Na última sexta-feira (22), o governo anunciou um bloqueio de R$ 6 bilhões no orçamento de 2024, somando R$ 19,3 bilhões em contingenciamentos recentes. Essas ações buscam conter o avanço de despesas obrigatórias, como previdência, e dar sinais de comprometimento com o equilíbrio fiscal.


Impactos e próximos passos

O governo enfrenta o desafio de equilibrar um discurso social com a responsabilidade fiscal. A decisão de vincular o anúncio da isenção do IR ao pacote de cortes foi interpretada como uma tentativa de demonstrar que o ajuste não recairá apenas sobre os mais pobres.

Ainda assim, o mercado aguarda mais detalhes para avaliar a sustentabilidade das medidas e sua capacidade de conter o crescimento da dívida pública no médio prazo.


Análise final

O cenário fiscal brasileiro segue tenso, com a valorização do dólar e a queda do Ibovespa refletindo a desconfiança dos investidores. O governo terá que demonstrar, na prática, como manterá o equilíbrio das contas públicas sem prejudicar sua agenda social e econômica.


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